Artigo "Alfabetização, leitura e ensino de Português: desafios e perspectivas curriculares"
Neste artigo, Antônio Gomes Batista, doutor em educação pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) discute as mudanças no currículo de alfabetização e ensino de Português nas últimas décadas. Sua base de análise são livros didáticos da área. Em seguida, examina o problema da consolidação da alfabetização, sobretudo tendo em vista a leitura e a compreensão de textos.
Até o início da década de 1990, predominavam cartilhas propondo um ensino pouco preocupado com os usos sociais e as diferentes dimensões da língua − como a oralidade, a leitura e a produção textual −, pois pressupunham que estes só poderiam ser explorados após a alfabetização. Nos livros para os anos posteriores, privilegiava-se o ensino sistemático da gramática, em detrimento do trabalho voltado à leitura de diferentes gêneros e à produção textual.
Já nos livros atuais da área, observam-se tendências opostas: em conformidade com as propostas curriculares vigentes, predominam atividades que exploram os diferentes usos sociais da língua, tanto na modalidade escrita quanto na oral. Os textos selecionados buscam representar a diversidade de gêneros, discursos e suportes presentes na sociedade.
Os livros de alfabetização apresentam atividades de leitura e produção textual mesmo antes de as crianças dominarem as capacidades de codificar e decodificar o sistema de escrita. No entanto, o autor percebe a dificuldade de determinar quais atividades são voltadas para o desenvolvimento dessas capacidades, pois raramente estão em conformidade com um método específico de alfabetização e muita vezes são apresentadas de modo sistemático. O mesmo se verifica nos anos seguintes, em que o estudo da gramática geralmente é proposto junto às atividades de leitura e produção de textos.
Batista defende que, para fins pedagógicos, é importante definir momentos ou etapas da aprendizagem da língua escrita: o primeiro momento, o da alfabetização inicial, ou seja, o que o nosso sistema de escrita representa e como funciona; o segundo momento, o da consolidação e do desenvolvimento da alfabetização, marcada pelo domínio das convenções ortográficas, pela progressão na fluência em leitura e escrita e na compreensão e produção de textos escritos com mais autonomia.
Para o autor, a análise das avaliações oficiais indica que parte dos problemas verificados hoje diz respeito não apenas à fase inicial de alfabetização, mas também ao momento da consolidação. Na sequência, o especialista apresenta perspectivas curriculares para essa fase do aprendizado da língua, com foco no ensino da leitura e da compreensão de textos.
Considerando que os currículos são uma resposta às mudanças da sociedade e de nossa visão de mundo, o autor defende a necessidade de analisar periodicamente as modificações implementadas nas metas e metodologias, observando seus acertos, limitações e fragilidades, para estabelecer ajustes contínuos. Segundo Batista, essa discussão é indispensável no atual contexto, em que surgem novos desafios à educação e especialmente ao ensino-aprendizagem da língua, como a entrada de crianças de 6 anos no ensino fundamental, a universalização do acesso à escola, o avanço das novas tecnologias e a perda de prestígio da cultura literária.
Referência: BATISTA, Antônio A. Gomes. “Alfabetização, leitura e ensino de Português: desafios e perspectivas curriculares”. Revista Contemporânea de Educação. Rio de Janeiro: UFRJ, 2011.
Antônio A. Gomes Batista
Doutor em educação pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), professor associado e pesquisador no Ceale – Centro de alfabetização, leitura e escrita – na mesma instituição. Professor convidado do curso de Especialización y Maestría de la Universidad Nacional de La Plata (Argentina). Pesquisa alfabetização, formação de leitores e cultura escrita, assim como a produção dos saberes escolares na disciplina Português.
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