Documentário aborda movimento estudantil e luta pela educação
O que esperamos da educação e o que ela espera de nós? Programa Antropofágicos faz a discussão a partir do filme Espero tua (re)volta
Em termos em que a palavra “balbúrdia” é utilizada até para se referir a universidades federais, cumpre perguntar como o movimento estudantil secundarista é visto por setores mais reacionários.
Poderia ele ser reduzido a expressões como baderna, bagunça, invasões e depredações? Ou, na verdade, esses setores deixam escapar, como no caso das universidades, toda uma potência e produção de conhecimento e política por parte dos jovens?
As respostas a essas e outras questões são abordadas no documentário Espero tua (re)volta, escrito e dirigido pela cineasta Eliza Capai. Assista ao trailer.
Ocupações escolares e resistência
Espero tua (re)volta foi escolhido para iniciar um debate entre o assessor de relações institucionais do CENPEC Educação, Alexandre Isaac, e a própria Eliza Capai no programa Antropofágicos, apresentado por Lina Garrido, com o tema “O que esperamos da educação e o que ela espera de nós”. O podcast foi ao ar na última semana, em diferentes plataformas. Confira o áudio.
“Nosso ponto de vista sobre a vida é muito particular: cada um parte da sua experiência individual e do seu próprio repertório para projetar o que é ou o que deveria ser determinado aspecto da sociedade. Quando olhamos um tema macro, como a educação (…), parece que todo mundo se sente em plenas condições de palpitar – mas tem gente que dedica toda uma vida para estudar uma área (…). Por que não dar voz a quem ‘manja’ de teoria e prática?”, diz a apresentadora, Lina Garrido, no início do programa.
Ao longo de quase de duas horas, Isaac e Capai comentam sobre o significado político do movimento de ocupações escolares ocorrido em São Paulo no ano de 2015, quando o governo de Geraldo Alckmin (PSDB) havia proposto uma reorganização de escolas de Ensino Médio que culminaria com o fechamento de unidades – e analisam o contexto atual da educação e das lutas em seu favor.
A ocupação em São Paulo é um dos temas centrais do filme, que, na verdade, acompanha as lutas estudantis desde as marchas de 2013, de protesto contra o governo Dilma Rouseff (PT), até a vitória de Jair Bolsonaro (PSL) em 2018.
“O tema das ocupações (…) e da mobilização social dos estudantes foi um tema que pude deliciosamente me meter por dois, três anos”, relata Eliza Capai, que contou com as narrativas dos agora ex-estudantes secundaristas Lucas Penteado, Marcela Jesus e Nayara Souza para produzir o documentário.
Educação para a democracia
Capai, no podcast, define-se como uma curiosa privilegiada, que pôde utilizar a linguagem do cinema para trazer à população detalhes que muitos desconhecem sobre as ocupações, como a oposição a uma “educação não crítica”, genérica.
Nos relatos do filme, fica claro que, durante as ocupações escolares, os estudantes “vivenciaram outras experiências de educação”, diz Capai, a partir de educadores que trouxeram oficinas para discutir temas como gênero, raça/etnia e diversidade, por exemplo.
Para algumas pessoas, a escola está a serviço exclusivamente do mundo do trabalho. Eu penso que a escola esta a serviço do encantamento com o saber.”
Alexandre Isaac
“A escola é uma instituição responsável por compartilhar (…) o conhecimento acumulado pela história da humanidade (…). Não devem ser somente os conhecimentos do campo da cognição – língua, matemática, história geografia, biologia… das ciências exatas, humanas e biológicas –, mas também os da convivência, a partir de uma perspectiva ética e crítica: da participação na vida pública, do respeito à diversidade e à questão ambiental. Todos esses conhecimentos convivem ali, na escola”, concorda Alexandre Isaac.
A partir dessa constatação, as ocupações escolares em São Paulo tornam-se um momento emblemático da luta dos estudantes do Ensino Médio por melhorias na educação e acesso livre à escola.
As experiências de gestão democrática por parte dos jovens, o respeito aos diferentes saberes que eles já trazem da comunidade e da vida cotidiana e a necessidade de formação adequada dos professores foram outros temas abordados no podcast.
Eles começam a se distribuir em comissão de despesa, de comida, de comunicação. Quando eles vão se organizando (…), falam: ‘a gente viu que sabia fazer e podia fazer as coisas.”
Eliza Capai
“Paulo Freire já dizia que tudo começa a partir do conhecimento que o outro tem (…). Existe uma diversidade dentro da escola pública. Os professores e gestores têm de entender que esses meninos são capazes de produzir, de criar, de intervir”, comenta Isaac.
Condecorado com os prêmios da Anistia Internacional (AI) e da Paz concedido pela Fundação Heinrich Böll em Berlim, Espero tua (re)volta foi exibido recentemente no 8º Olhar de Cinema de Curitiba (PR) e terá outras exibições em festivais até o final de agosto, quando está prevista sua estreia nacional.
Saiba mais
Veja a entrevista com a então estudante secundarista Dafne Damasceno Cavalcante, realizada por Vanessa Nicolav originalmente para a plataforma Educação&Participação, do CENPEC Educação.
A escola é nossa – “No começo, tinha pais de alunos dizendo que a gente estava impedindo os filhos deles de estudar, mas na verdade a gente queria garantir que no próximo ano esses filhos estudassem ali também.”
Escola livre – “A gente resolveu construir um modelo de escola horizontal, democrático, sem bandeiras. Na nossa gestão, trouxemos a escola que a gente quer: uma escola livre, com cultura, em tempo integral.”
Diálogo e participação – “É preciso trazer a comunidade para a escola. É dar a responsabilidade de garantir a educação não só ao professor e ao aluno, mas para os pais, para a comunidade.”
Protagonismo das mulheres – “Nós mulheres provamos que podemos, sim, lutar pela escola e que mulher não serve só para passar, lavar e cozinhar.”
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